Nos últimos anos, os cenários cinematográfico e televisivo foram invadidos pela estética nostálgica. Temos hoje no cinema e televisão a busca por filmes e séries clássicos, a continuidade de franquias antigas, a reconstrução de várias obras com remakes e releituras adaptadas aos novos tempos, entre tantas outras formas de revisitar o passado e quem sabe trazer um pouco de calma a ansiedade, como diria Morpheus em Matrix Resurrections.
Essa busca pelo passado reforça primeiramente – e falando de uma forma rasa – a ausência de criatividade nos citados setores, além da recusa ao presente, ao se buscar um passado que se mostra mais rico, profundo e cada vez mais encantador, sem deixar de apelar para as estruturas mais modernas – e por vezes mais plásticas e sem a magia de outros tempos.
Com Star Wars, obra realizada pelo diretor e produtor George Lucas em 1977, não seria diferente tendo em vista que tal franquia fora criada justamente com a intenção de ser explorada sem restrições. Desde sua aquisição em 2012 pela Walt Disney Company, Star Wars vem sendo revisitada e reelaborada repetidamente. Inicialmente, com uma nova trilogia composta pelas continuações Episódio VII (O Despertar da Força), Episódio VIII (Os Últimos Jedi) e o fatídico Episódio IX (A Ascenção Skywalker). Com o sucesso do streaming, a Disney buscou no dito serviço ampliar ainda mais a franquia, agora com conteúdo televisivo, trazendo séries para sua plataforma digital. Era iminente que uma adaptação sobre Obi Wan Kenobi (Ewan McGregor), um dos personagens mais queridos dos filmes, tivesse sua própria história.
Com sua estreia em maio de 2022, tivemos uma leitura do personagem próxima ao que foi realizado com Luke Skywalker (Mark Hamill) em Os Últimos Jedi, trazendo um Obi Wan cansado e desesperançoso diante da ascensão do Império mostrada em a Vingança dos Sith. Contudo, após os primeiros episódios, a espera por uma jornada épica foi facilmente trocada por frustração e incômodo por parte dos telespectadores para com aquela que poderia ser uma das maiores adaptações do serviço de streaming da Disney.
Com um ritmo inconstante, logo no segundo episódio tivemos um vislumbre do que viria nos episódios seguintes, com uma perseguição pífia que se utiliza de mecanismos forçados, a fim de tentar exaltar a qualidade da personagem de Leia Organa (Vivien Lyra Blair) diante dos vilões que a perseguem. Uma série de decisões erradas, um roteiro por vezes falho com a grandiosidade de seus personagens e uma direção que muitas vezes beira o amador. Obviamente existia uma expectativa por parte do público com sequências de ação dignas de uma adaptação moderna, tal qual acontece na também série derivada, O Mandaloriano. Contudo, o que temos são sequências de ação pouquíssimo inspiradas e totalmente mal executadas, dando uma sensação de um conteúdo barato e inexperiente, ao criar situações que soam somente ridículas e um entretenimento bobo, na melhor das hipóteses.
Obi-Wan busca forçosamente apelar para sua própria nostalgia em uma leitura não muito inspirada sobre seu passado, sempre referenciando tanto a primeira quanto a segunda trilogia. A série busca adaptar diversos paralelos com a própria franquia, ora buscando na trilogia iniciada em 1977, ora na continuação-prequel realizada em 1999, contudo sem acertar o tom ideal entre dois trabalhos tão distintos no tempo e mentalidade do seu criador. A nostalgia e sua estética não justificam ou explicam os erros e a falta de compreensão dos seus desenvolvedores, os quais buscam por vezes emular o trabalho de George Lucas ou mesmo pincelar as ótimas ideias de Dave Filoni que tanto acrescentou ao universo Star Wars com as séries Guerra dos Clones, Rebels e a mais recente O Mandaloriano. E justamente aqui reside a diferença entre o medíocre apresentado em Obi Wan Kenobi e o acréscimo estabelecido pelas outras séries derivadas.
Em uma tentativa – que soa ora desesperada, ora deslocada – de diálogo com a trilogia original e com as animações de Guerra dos Clones e Rebels, Obi-Wan Kenobi acaba sem um foco específico numa tentativa de traduzir o que foi feito antes, assim descartando a oportunidade de apresentar uma narrativa mais densa e elaborada. A evidência dessa abordagem perdida fica clara com a história da ótima Reva (Moses Ingram), uma personagem com muito impacto e grande carga dramática, porém apresentando um desenvolvimento fraco e uma trama nada concreta com relação aos Inquisidores, algo que já é totalmente estruturado em Star Wars: Rebels. Todos esses elementos tornam Obi-Wan refém da própria franquia, sem espaço para inovar e/ou acrescentar, além de uma história morna e inconsistente que desperdiça seus personagens.
Seus idealizadores não trataram Obi-Wan com a atenção devida. Stormtroopers nunca foram tão mal trabalhados e soaram como figurantes perdidos e prontos para o abate como antes. Excessivas conveniências no enredo que entregam soluções fáceis a problemas que o próprio roteiro criou nunca foram tão diretos. Esse pode ser o caso, já que o resto é tão previsível, tão sem amor e honestamente entediante em diversos momentos. A constante busca por criar suspense com cenas que só podem seguir um caminho tratam o telespectador com indiferença, exigindo a suspensão da descrença em diversos momentos. A fotografia do cinegrafista do Oldboy original é trêmula quando precisa de calma e ainda quando o olho exige alguma ação. Sua trilha sonora é esquecível, mesmo em um comparativo direto ao último projeto de Star Wars, O Livro de Boba Fett, onde foi realizado um trabalho mais competente e marcante.
Contudo, a série ainda conta com ótimos elementos, assim como toda a franquia. A ótima e expressiva atuação de Ewan McGregor, que está mais confortável do que nunca no papel. A representação avassaladora de Darth Vader que remete às suas aparições na trilogia origina, Star Wars: Rogue One e Star Wars: Rebels. O carisma da jovem Leia, interpretada por Vivie Lyra Blair. Além da carga dramática desenvolvida nos dois primeiros episódios, bem como seu catártico episódio final o qual liberta Obi Wan da culpa sobre seu confronto com Anakin em A Vingança dos Sith e nos traz um combate épico, naquele que era o confronto mais esperados pelos fãs da série.
Contudo, fica o questionamento, até que ponto a nostalgia trará produções com um desenvolvimento trivial?
O Review
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Excelente. Texto preciso.