Vamos aproveitar que o dia dos namorados está chegando para falar de…quadrinhos é claro. E isso nos leva a uma outra discussão, a associação dos quadrinhos com o universo infantil, seja pela leitura e recepção ou pela compreensão do meio como forma de leitura infantil, mas como dissemos, o texto de hoje é sobre o dia dos namorados, vamos debater sobre o quadrinhos como mídia um outro dia.
E nada mais conectado com o dia nos namorados do que o sentimento. Você sabe a diferença entre sentimento e emoção?
A emoção é uma reação imediata a um estímulo, algo quase que automático, que te impacta e mexe com você sem envolver necessariamente o pensamento. Já o sentimento requer uma construção, requer mais tempo.
Máquinas Não Choram conta a história de dois amigos que buscam se ver por um último momento antes de perderem suas emoções e sentimentos. O quadrinho foi inicialmente apresentado em uma campanha pelo site de financiamento coletivo Catarse e teve seu lançamento oficial na CCXP de 2018. A revista tem 56 páginas, miolo em preto e branco e capa cartonada colorida.
No gibi, acompanhamos uma história que se passa em um futuro não tão distante, onde os smartphones foram substituídos por BOTs, pequenos robôs pessoais, que passam a ser assistentes pessoais muito úteis no dia a dia. A grande novidade é que em uma das atualizações mais recentes no software foi a de inclusão de emoções nos BOTs e isso se tornou imediatamente o hit do momento, agora além de assistentes pessoais, os humanos teriam verdadeiros amigos ao seu lado.
Mas com as emoções, rapidamente vieram os sentimentos e suas consequências. É claro que para isso ninguém estava preparado. O governo decide que será necessário um downgrade obrigatório em todos os robôs pessoais. No meio de toda essa turbulência acompanhamos a história dos robôs Boy e Girl que construíram uma amizade verdadeira, mas que estão na iminência de perder suas emoções e, consequentemente, não reconhecer mais um rosto amigo um no outro.
Muito interessante o foco nas emoções e amizade que a dupla criativa conseguiu apontar com esse excelente trabalho que é sem sombras de dúvidas um dos exemplos de talento nacional que acaba sendo encoberto pelos quadrinhos mainstream e na disputa com outras formas de entretenimento que existem hoje em dia. Somos um país que lê pouco, quase nunca frequenta o teatro e quando muito vai ao cinema, mas não o suficiente para criar uma rotina saudável de cultura e busca do conhecimento.
São histórias assim que me fazem acreditar o quanto podemos sair um pouco do grande círculo vicioso dos cultuados clássicos indispensáveis internacionais. Existem excelentes histórias nacionais espalhadas por aí aguardando serem conhecidas e lidas por você. E Máquinas Não Choram é um excelente exemplo delas.
Uma metáfora que fala sobre a amizade e sentimento que tem um roteiro que nos conquista rapidamente e nos faz querer saber o desfecho da história a qualquer custo. Em uma história com ritmo acelerado e doses certas de suspense o autor habilmente nos coloca na “pele” de Boy e Girl que certamente estão vivendo uma situação que pode se encaixar na vida de qualquer casal humano, que precisa lidar com a saudade, aceitação e recomeços. A arte do quadrinho lembra muito o estilo de zines e tem um traço muito particular, além de explorar ao máximo os espaços de cada quadro, destaque para algumas onomatopeias que se misturam aos desenhos de uma forma incrível e nos fazem imergir na história e embarcar nas emoções que os personagens estão experimentando.
O quadrinho autoral pode ser adquirido diretamente com os criadores por intermédio de suas redes sociais, as quais você já pode aproveitar para conferir e seguir é só clicar nos links. André Turtelli Poles (instagram.com/andretp) é o roteirista e Renato Quirino (instagram.com/renato_quirino) é o ilustrador.
Por fim, como o Dia dos Namorados já está chegando e com ele aquela época em que os solteiros ficam mais rabugentos e os casais ficam ainda mais melosos nada como uma história sobre sentimentos para agradar a qualquer um nesse dia e te fazer pensar o quanto você é privilegiado em poder experimentar emoções e conseguir transformá-las em sentimentos.
Certamente os personagens Boy e Girl vão te mostrar o quanto pode ser valoroso retornar ao simples, à sua essência mais seminal que é viver a vida e acumular sentimentos, de preferências os melhores possíveis. Tenho certeza que você vai curtir e muito provavelmente se permitir chorar, já que por enquanto, As Máquinas Não Choram.
Amei! Essa história parece ser incrível e ainda cheia de boas referências. Essa matéria só me fez querer esse quadrinho pra ontem na minha mesa. Ótima dica!