Nesta semana, 22 de agosto, foi dia do Folclore brasileiro. Ao longo dos anos algumas entidades religiosas foram adicionadas a este folclore inspirando a literatura, fantasias e histórias até os dias de hoje, inclusive no universo dos quadrinhos, trazendo títulos de autores diversos sobre o tema.
Vamos conhecer hoje Folklóricas: Y-Iara, Caapora Irumo de Alex Mir e Alex Genaro. A HQ é de 2016, e apresenta duas “divindades” da cultura indígena, que também fazem parte do nosso folclore popular: Yara e Caipora, conhecidas e apresentadas de diversas formas ao longo dos anos.
Caipora, de acordo com a lenda, é um Encantado indígena que protege a floresta, afastando caçadores e protegendo os animais. Dependendo da região do país, ela pode ser retratada tanto por uma figura masculina, quanto por feminina. Sua origem pertence aos mitos indígenas e significa “Habitante do mato”.
Yara (Ou Iara, Mãe d’água), também faz parte da cultura indígena, e reza a lenda que Yara era uma linda jovem que despertou inveja em seus irmãos que se uniram para matá-la, sendo Yara também uma grande guerreira, reverteu a situação e assassinou seus irmãos. A jovem precisou fugir para se livrar da ira do pai, que era o Pajé da tribo, mas sem sucesso foi encontrada e como castigo pela morte dos irmãos foi lançada ao rio. Os peixes com piedade da moça, a transformaram em uma sereia, e Yara passou a atrair com sua grande beleza e voz hipnotizante os homens e os levando para o fundo do rio.
A história de Alex Mir narra um grupo de amigos na festa tradicional em homenagem à Iemanjá na Bahia, quando um dos integrantes é atraído por uma bela mulher, enquanto simultaneamente percebe a presença de uma aparição o observando com rosto sisudo. Esse encontro sinistro arrasta o homem para uma grande armadilha, vindo a ser salvo por quem antes havia lhe causado grande pavor. Aqui, vemos Yara sendo uma espécie de antagonista dessa história, se aproveitando do tumulto do festival para atrair homens para o fundo do rio e devorá-los, uma vez que as oferendas já não lhe eram suficientes.
Caipora, como grande defensora, atua aqui impedindo que Yara continue seu legado de sangue. Apesar de o quadrinho não se aprofundar nas mitologias indígenas, ele apresenta essas personas e as traz para um cenário atual.
O projeto de Alex Mir visava trazer outros personagens e dar continuação ao quadrinho Folklóricas, um segundo volume foi lançado Folklóricas: Capelobo, com capa de Alex Genaro e arte de Rafael Oliveira. Nesta edição, Alex Mir nos apresenta a história de Capelobo, surgido também das lendas indígenas, em especial nos estados do Maranhão, Amazonas e Pará. Para quem ainda não conhece, podemos dizer que ele é nosso “lobisomem”.
“Um estranho assassinato acontece em uma tribo asurini. Os indícios levam todos a acreditarem que o Capelobo, uma criatura mítica de nosso folclore, foi o responsável.Moa e Rudá, dois jovens índios, iniciam uma investigação por conta própria. Enquanto Moa, cético, tenta provar que Capelobos não existem, Rudá está certo de que uma maldição antiga recaiu sobre sua tribo. Capelobo é a segunda história do título Folklóricas, que traz periodicamente histórias em quadrinhos completas com personagens de nosso rico folclore, mostrando-os de forma diferente daquela que costumamos ver nas mídias em geral.”
Os quadrinhos estão disponíveis no site de Alex Mir, onde você encontra muitos de seus projetos como Orixás, Walkíria, A mão e a luva, Segundo tempo, dentre outros. Compre AQUI.
Outros quadrinistas nacionais também se aventuraram por esses contos, trazendo uma infinidade de lendas de vários estados brasileiros para as páginas dos quadrinhos. Confiram alguns desses títulos abaixo 😉
Além do que nos foi contado
Vale ressaltar que apesar de termos conhecido ainda na idade pré escolar essas figuras como sendo lendas do folclore popular brasileiro, há controversas que precisam ser analisadas mais de perto, como um extenso e importante debate sobre o apagamento histórico da cultura indígena. Há muitos estudos e artigos que comprovam que na verdade, o que conhecemos hoje como lendas do folclore popular, na verdade são encantados indígenas, espíritos protetores das florestas e dos animais, e vale muito a leitura e o conhecimento sobre o tema. Confira alguns exemplos nos sites listados abaixo:
Muitos ativistas indígenas, no entanto, classificam como etnocídio a inserção de elementos das culturas indígenas, em especial a religiosidade, em lendas brasileiras. “Folclore é esvaziamento das espiritualidades indígenas; Seria o mesmo q dizer, Ave Maria faz parte do folclore, mas ninguém fala pq temos a religião de colonização no poder diminuindo as nossas”, afirma a escritora descendente de macuxi Julie Dorrico nas redes.
Trecho da matéria “Pensando perspectivas decoloniais sobre o folclore brasileiro” , Site Nonada Jornalismo – Matéria completa AQUI
As características do folclore, elencadas por Câmara Cascudo como antiguidade, persistência, anonimato e oralidade são espelhos das narrativas e saberes indígenas. Os povos indígenas, porém, foram impossibilitados de qualquer reivindicação autoral de seus conhecimentos e espiritualidades porque eram desprovidos compulsoriamente de humanidade e direitos civis. Quando a Carta Folclórica diz que o folclore é a “maneira de pensar, sentir e agir de um povo, preservadas pela tradição popular”, ela está defendendo o sentir e pensar do povo brasileiro, definida como identidade dominante (de ascendência europeia), que não reconhece os indígenas e negros como autores das suas narrativas,espiritualidades e propriedades intelectuais, reduzindo-as à “tradição popular”.
Folclore brasileiro versus literatura indígena, Matéria completa no site Ecoa por um mundo melhor AQUI
Para a maioria das culturas indígenas, os Encantados são seres que trazem consigo o poder de cura. Esses povos não acreditam que um Encantado tenha sido alguém que morreu, e sim que se transformou. Então em uma tribo quando alguém alcança um grau muito alto de sabedoria, antes do momento da sua morte ele encanta. E assim, passa a ser uma energia que é integrante da natureza.
Os Seres Encantados, o folclore e as encantarias a benefício dos homens. Matéria completa no site Iquilibrio AQUI
E então, conheciam algumas dessas definições? Conta pra gente sobre a sua experiência com o tema!
