Atualmente, estamos vivendo um período de efervescência “quadrinística” — nossa, que palavra feia! Mas as outras em que pensei são igualmente horríveis: nonartística (cruzes), comica (de comics, blergh!), gibisférica… opa! Essa última ficou boa, vou usar! — recomeçando: Atualmente, estamos vivendo um período de efervescência “gibisférica” no Brasil. Nunca se dedicou tanto à Nona Arte como agora. Foi-se o tempo em que as livrarias e feiras de livros expunham apenas… livros, deixando nossa mídia favorita (quadrinhos) relegada apenas às bancas de jornal e gibiterias (comic shops).
O mês de junho foi agraciado por muitos lançamentos, sendo um deles a belíssima Balada para Sophie, da editora Pipoca e Nanquim. Inicialmente, pode parecer uma HQ sobre música, ou algo que gravite em torno do tema, mas não é. Trata-se de uma história sobre inveja, remorso, rejeição e sobrevivência. Sobre escolhas feitas no passado que impactaram na vida das pessoas. Um drama com final feliz (olha o spoiler aí!), que faz jus ao termo “romance gráfico”. Com traço bastante característico da escola europeia, e sua esplêndida paleta de cores — que remete muito mais a algum movimento artístico ligado à pintura do que qualquer outra coisa.
Apesar de estar me referindo aqui a uma BD (Banda Desenhada), essa não faz parte do eixo franco-belga de publicações. Os autores, Filipe Melo (Portugal) e Juan Cavia (Argentina), não são franceses nem belgas, mas a história se passa na França. Diversas décadas são retratadas ali, desde à invasão ao país pelos alemães, até as consequências disso para o novo milênio. Sem contar as inúmeras referências a compositores da música erudita e ao jazz, em especial a Maurice Ravel, pianista e compositor francês muito apreciado pelo autor da obra (Felipe Melo, além de roteirista e escritor, também é músico). Os desenhos de Cávia, por sua vez, têm uma assinatura muito particular, encontrada em desenhistas portenhos como Carlos Gómez, Alberto (Uruguai) e Enrique Breccia entre outros.
Recomendadíssima para amantes de quadrinhos sensíveis, mas sem ser piegas, com temática histórica e cheio de referências ao universo da Quarta Arte (música). Vale salientar que não se trata de material infanto-juvenil. As cenas que retratam abuso no uso de drogas e álcool, orgias bissexuais e violência física e emocional são capazes de deixar o mais apático leitor corado e escandalizado.