Mal passamos da metade do ano de 2022 e já estou elencando a melhor leitura. É tentador, não consigo evitar! “Amor à primeira vista”, só pode ser! Neste caso, à primeira e segunda vistas, vou explicar porquê. Isso ocorre, geralmente, quando encontramos algo diferente do que estamos habituados a consumir. Esse critério serve para qualquer coisa, seja na arte ou entretenimento, estamos sempre dispostos a adorar algo que nos agrade muito.
Todos os meses encontramos a melhor do ano (série, filme, HQ etc.), e entramos de cabeça quando há expectativa. Quando é correspondida pelo hype então, nem se fala. É a melhor coisa do mundo. Foi o que aconteceu em julho comigo enquanto aguardava ansioso pelo lançamento do mangá devido à expectativa gerada pelo anúncio no site da editora (JBC), e pelos reviews que acompanhei antes mesmo da publicação. Quase sempre caio no “conto do vigário” quando o assunto é “expectativa”, mas desta vez “ele” tinha razão. E não há sensação melhor quando isso acontece.
“Uau, mas o que há de tão incrível nessa obra, Rafael?”, você pode perguntar. É difícil precisar, mas adianto que é uma daquelas em que quando “a bolha” estoura atinge outros nichos também. Muito semelhante ao que ocorreu no universo da Sétima Arte com Matrix, por exemplo, e na literatura também com 1984, Guerra dos Mundos, entre outras. Talvez A Música de Marie seja marcante porque não aborda um único tema. Ela fala a diversos públicos, e esse é o seu segredo. Além da questão sci-fi, que é a mais óbvia, com estética inspirada em Metrópolis — tanto o original (livro e filme) quanto as adaptações para anime e mangá (Tesuka) — e no expressionismo alemão, não sabemos ao certo se o mangá fala sobre aceitação, perda, esquizofrenia ou se é uma crítica ao progresso científico desenfreado do último século. Muitas questões cabem aqui, por isso é difícil detalhar ao certo.
Usamaru Furuya é um mangaká muito competente quando o assunto é produzir algo “fora da curva”. Pode ser comparado ao Tanigushi neste aspecto – e só neste aspecto, as temáticas não são equivalentes –, já que cada obra é muito diferente da outra. Conhecido por nós, brasileiros, pelo já lançado Suicide Club, também pela NewPop, Furuya iniciou sua carreira ainda na década de 1990, em um mangá voltado para a comédia. Desde então, vem produzindo materiais que destoam não só de tudo o que é lançado no mercado, mas de suas próprias criações. Suas obras propõem um tipo de reflexão, e essa é a única semelhança entre elas.
O autor nos apresenta um universo distópico (ou será que não?), protagonizado pelos amigos Pipi e Kai, dois adolescentes que cresceram juntos em meio a uma das comunidades pacíficas existentes na terra de Pírito: a Cidade das Oficinas. Cada uma delas representa um dos povoados que preenchem todo o planeta. O final triste e arrebatador arrancará lágrimas do mais insensível dos leitores. Mais do que recomendado!
Ficha ténica:
A Música de Marie (Marie no Kanaderu Ongaku) – Volume único
Autor: Usamaru Furuya
Formato: 528 páginas – 15 x 3 x 21 cm – Papel Pólen Bold, 70g – Inclui páginas coloridas – Capa Cartonada – Possui sobrecapa com efeitos